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quarta-feira, 23 de março de 2011

Nenhum som teme o silêncio que o extingue

Nhotim, numa manhã chuvosa do final de dezembro


John Cage, autor da frase que intitula este post, percebia no silêncio um grande prazer, algo que a poluição sonora urbana provocada pelo trânsito e os abomináveis 'sonzões' automotivos não nos permite mais.
Na década de 1950, Cage apresentou pela primeira vez sua criação 4'33", uma peça onde o pianista (no caso) levantava a tampa do piano, e permanecia sem tocar nada, apenas mudando as páginas de tempo em tempo. Foi perturbador.
Posteriormente, Cage diria que a obra era uma música totalmente diferente a cada execução, pois consistia, em realidade, na composição dos sons e ruídos do ambiente onde era apresentada. Bingo! 
Lá estava a tão cultuada interatividade, que ingenuamente acreditamos ser atributo tecnológico dos barulhentos dias de hoje.
Por que será tão difícil encontrar silêncio? Por que para a grande maioria de nós é tão intolerável  se deixar silenciar?
Vi dia desses no Valor Econômico, um comentário sobre o livro "Book of Silence” de uma autora escocesa chamada Sara Maitland, que tem uma abordagem muito interessante. Veja um trechinho traduzido pelo jornal:

"Em nossa cultura obcecada pelo barulho é muito fácil esquecer quantas das maiores forças das quais dependemos são silenciosas - gravidade, eletricidade, luz, marés, o não visto e não ouvido girar do cosmos. A terra gira, e gira rapidamente. Gira ao redor de seu eixo a cerca de 1.700 quilômetros por hora (no Equador); ela orbita ao redor do Sol a 107.218 quilômetros por hora. E todo o sistema solar gira através da galáxia a velocidades que eu mal ouso pensar. A atmosfera da terra também gira com eles, e é por isso que não sentimos o girar. Tudo acontece silenciosamente".

Em atenção ao silêncio, será que você consegue se aquietar e assistir a apresentação de 4’33’’ em homenagem a John Cage?
E se ainda tiver um pouquinho só mais de tempo, tente assistir à entrevista do próprio Cage about silence.


Um comentário:

  1. O silêncio é um ninho acolhedor,para mim.Consigo permanecer nele,por dentro e por fora.Acredito que assim nossa energia se fortalece para os "momentos ruidosos"....beijos silenciosos e concordantes.

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