A natureza não pode ser separada da
cultura e, portanto, não deve ser obstáculo ao progresso humano. Para se
assimilar esta idéia aparentemente desconexa precisamos antes aprender a pensar
a realidade de modo mais complexo, numa perspectiva ético-política, que inclua
no enfrentamento da questão ambiental, também as questões de gênero, do
racismo, do urbanismo, da pedagogia e da criação artística. É mais ou menos
nessa perspectiva que surge o conceito de ecosofia, que tenta aproximar
de modo dialético e militante, atitudes ecológicas com a filosofia
contemporânea.
Um dos expoentes desse campo foi o
filósofo francês Felix Guattari, que há quase três décadas conquistou
notoriedade entre os ambientalistas com o seu livro ‘As Três Ecologias’, obra referencial (e bastante atual) que
preconiza a necessidade de uma articulação ética e política entre a natureza, a
sociedade e a subjetividade humana. Para Guattari, o restabelecimento de um
relativo equilíbrio ambiental depende cada vez mais de uma mudança de
mentalidade, que se reflita no nosso modo de ser na família, no trabalho e no
contexto urbano, que determinem novos padrões de intervenção humana. É o
círculo virtuoso no qual se interconectam as três ecologias (ambiental, social e mental).
Mas como viabilizar isso numa sociedade onde o cidadão é coadjuvante, com baixo grau de mobilização e quase
nenhuma participação no cotidiano de sua comunidade? Qual a efetiva capacidade
de interferência individual para se transformar a realidade? A superação desse
dilema nos parece uma condição essencial para o envolvimento e protagonismo
social do indivíduo no enfrentamento dos problemas contemporâneos.
A degradação da vida nas cidades, na
exata proporção de seu crescimento é algo que angustia, pois é justamente nas
cidades que a vida pulsa com mais ímpeto, intensidade e criatividade.
Ao aceitarmos como “natural” que a
cidade cresça enquanto a qualidade de vida se vá, estamos validando um erro
histórico recorrente, simplesmente porque temos testemunhado séculos de
repetição e aperfeiçoamento tecnológico de práticas insustentáveis e modelos de
ocupação equivocados e excludentes.
Ao
longo do tempo, pouco ou quase nada mudou na relação social com a natureza, a
não ser a intensidade destrutiva da presença humana.
Fazem-nos crer que é um
mal necessário. Não é.
E não me refiro a uma
abordagem meramente naturalista e fantasiosa que idealiza uma natureza intocada,
oásis na selva urbana. Estou dizendo que é possível intervir de modo diferente,
desde que as nossas percepções e representações culturais em relação ao meio
ambiente e à paisagem urbana incorporem como requisitos basilares, valorizar a
diversidade, tolerar as diferenças e controlar a ganância.
Caso contrário, penso
corrermos um sério risco de nos acomodarmos numa certa paralisia da
esperança, que geralmente acontece quando apesar de percebermos a óbvia
necessidade de mudança e acreditarmos na nossa capacidade de mudar, ainda assim,
não acreditamos que a mudança seja possível. E é.