O ano era 1972, o Brasil vivia o esplendor do milagre
econômico e o terror dos ‘anos de chumbo’ da ditadura militar, dois fatos
históricos simultâneos que “co-existiam negando-se”, como retrata o jornalista
e escritor Elio Gaspari no livro “A Ditadura Escancarada”. Para ele e muitos de
nós, mesmo depois de décadas essa negação persiste, pois “quem acha que houve um, não acredita (ou
não gosta de admitir) que houve o outro”.
O ano era 1972, quando foi inaugurada a rodovia
transamazônica, foi realizada a primeira transmissão a cores da televisão
brasileira, Lula fora eleito como primeiro-secretário do sindicato dos
metalúrgicos do ABC, Dilma Rousseff era prisioneira política, Rondon Pacheco
era governador de Minas e nome de avenida em Uberlândia. Enquanto
isso no hemisfério norte findava a primavera e no dia 5 de junho tinha início a
primeira conferência mundial sobre o homem e o meio ambiente, na cidade de
Estocolmo, Suécia. A partir daí, a data começou a ser comemorada como dia
mundial do meio ambiente.
Por aqui, a amazônia despertava mais interesse por razões de
segurança do que por importância ecológica. Caçar era permitido, principalmente
‘terroristas’ que se escondiam no mato. Até um major com alcunha de passarinho
(Curió) foi designado como algoz para abater militantes de esquerda no Araguaia.
Lá na Suécia, governantes e cientistas alertavam que era
preciso rever o modelo de crescimento econômico, conter a degradação ambiental,
pois a sobrevivência da humanidade estava em jogo.
A delegação brasileira se opôs, discordou, foi hostil,
afinal tínhamos que crescer o bolo para depois (talvez) dividi-lo. Para se ter
uma ideia, naquele tempo no Brasil havia apenas 1 veículo para cada 30
habitantes, hoje aqui em Uberlândia temos praticamente 1 para cada 2 pessoas. Crescemos,
o sindicalista foi presidente, a ex-prisioneira o é, e a avenida está aí, sendo
ampliada para atender as insaciáveis necessidades dos automóveis.
Quarenta anos se passaram, Uberlândia passou de 130 mil
habitantes para 700 mil, a preocupação ambiental que era considerada coisa de
gente desocupada, de intelectuais “melancia” (verde por fora e vermelho-moscou
por dentro), agora aparece com destaque (cosmético) na agenda política até dos governos
mais conservadores e retrógrados. É neste cenário que agora neste mês de junho acontecerá
no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20).
Um dos motes que balizarão as discussões na Rio+20, que
contará com a presença de governantes de mais de 120 países é “mais do mesmo não é uma opção”. A ideia
está no prefácio do Relatório Econômico e Social Mundial 2011, assinado pelo
Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, e afirma que:
“embora a humanidade tenha feito progressos significativos na melhoria de
seu bem-estar material ao longo dos últimos dois séculos, esse progresso tem
sido conseguido à custa da degradação permanente de nosso ambiente natural.
Cerca de metade das florestas que cobriam a Terra desapareceu, as fontes de
águas subterrâneas estão sendo depredadas e poluídas, está em curso uma enorme
erosão da biodiversidade e, graças ao aumento do uso de combustíveis fósseis, a
estabilidade climática do planeta está ameaçada pelo aquecimento global. É
preciso um progresso econômico muito maior para que as populações dos países em
desenvolvimento atinjam um padrão de vida decente, especialmente os bilhões que
ainda vivem em condições de extrema pobreza, bem como os dois bilhões de
pessoas que vão se somar à população mundial até meados deste século.
Continuar pelos caminhos do crescimento
econômico que temos percorrido até agora somente aumentará as pressões sobre os
recursos naturais e o meio ambiente, levando os modos de vida atuais a limites
que não serão sustentáveis. Por tudo isso, continuar agindo como de costume,
com os negócios como sempre, não é mais uma opção.”
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