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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Indelicadezas Urbanas

Aqui em Uberlândia, a praça Cícero Macedo, no bairro Fundinho é uma das mais tradicionais da cidade, onde na segunda metade do século XIX existia uma pequena capela e um cemitério à sua frente. Anos mais tarde em seu lugar foi erigida a igreja matriz, demolida na década de 1940 para a construção da rodoviária, e atualmente abriga a biblioteca municipal. 



Pois é neste local que deveria ser "do povo, como o céu é do avião", que foi feita uma “intervenção” tosca que evidencia uma das inúmeras indelicadezas urbanas do nosso cotidiano.





Colocaram brita com concreto na mureta que circunda a praça, como solução para impedir que as pessoas possam se sentar e o sossego dos moradores dos arredores seja garantido.





Parece coisa inspirada na anedota do marido traído que resolve tirar o sofá da sala...





Se é obra pública é deplorável, se não é, mas é tolerada torna-se inaceitável.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Recorde Nefasto

Dias desses saiu no jornal Valor Econômico (17/fev/2011), uma manchete sinistra “Venda de defensivos agrícolas bate recorde no Brasil”. Sinistra porque utiliza de eufemismo para vangloriar a venda de venenos, ou para ser mais ameno e menos hipócrita, Agrotóxicos.
Para o Sindicato das Indústrias do setor (Sindag), o ano de 2010 foi o melhor em vendas da história do setor, com faturamento de US$ 7,24 bilhões. Isto sem contar os produtos contrabandeados e falsificados que chegam à roça com relativa facilidade. Nesta toada o país vai recuperar a dianteira mundial no consumo de agrotóxicos, conquistada em 2008, afinal segundo a matéria, foram importadas 231,66 mil toneladas de produtos no ano passado. São quase 232 milhões de quilos de veneno para uma população de 191 milhões de pessoas, algo em torno de um quilo e duzentos gramas para cada um de nós.
Não é por coincidência que o Brasil também se tornou o principal mercado consumidor para venenos proibidos em outros países. Abamectina, Carbofurano, Cihexatina, Endossulfam, Forato, Fosmete, Glifosato, Lactofem, Metamidofós, Paraquate, Parationa Metílica são alguns dos banidos que aqui são comercializados até com redução de ICMS. Tudo em nome do agronegócio e do PIB nacional.
 Diante desta situação, não acredito que seja bobagem especular que provavelmente também estejamos na liderança de intoxicações, câncer, doenças metabólicas, reprodutivas, suicídios e outras mortes associadas com os tais defensivos. Para se ter uma ideia, o Sinitox – Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas registra em torno de 15 mil casos anuais de intoxicação pelos “ditocujos” (ou seriam ditosujos), mas segundo estimativas de pesquisadores não patrocinados pelas indústrias dos defensivos, para cada caso notificado há 50 não notificados, o que representaria perto de 750 mil pessoas contaminadas anualmente, em doses subclínicas, assintomáticas e crônicas, cujos efeitos somente serão percebidos tempos depois.
Para se ter uma ideia da fragilidade do nosso sistema de monitoramento, basta checar o site da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para vermos que os resultados mais recentes do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) são de 2009, ou seja, podemos saber informações sobre os venenos que ingerimos dois anos atrás!!!
Isso incomoda? Experimente então, comer só alimentos orgânicos, o que provavelmente não será nada fácil, até porque são pouquíssimos os produtores, quase nenhum varejista e geralmente os preços são um veneno para o nosso orçamento.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011




Paisagem da Canastra - foto de Antonio Liccardo
Voltando da Ligúria para a Canastra (do post anterior), lembrei de um francês que em meados do século XIX perambulou pelos chapadões do entorno da nascente do rio São Francisco em 1819 e depois publicou o livro “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco” que pode ser adquirido a partir de R$ 23,00 na Estante Virtual. Trato do Saint-Hilaire que para descrever o fascínio da visão da cachoeira da Casca D’Anta escreveu:

... Para ter uma idéia de como é fascinante a
paisagem ali, o leitor deve imaginar estar
vendo em conjunto tudo o que a Natureza
tem de mais encantador: um céu de um azul
puríssimo, montanhas coroadas de rochas,
uma cachoeira majestosa, águas de uma
limpidez sem par, o verde cintilante das
folhagens e, finalmente, as matas virgens, que
exibem todos os tipos de vegetação tropical.


Passados quase 200 anos, os geólogos Antonio Liccardo e Júlio César Mendes refizeram o caminho de Saint-Hilaire e nos brindaram com a publicação “Saint-Hilaire nas Nascentes do Rio São Francisco”, disponível no site da Geoturismo Brasil para download no formato pdf.

Cachoeira Casca D'Anta vista da janela - foto de Antonio Liccardo
As fotos que ilustram este post são de um dos autores, o Antonio Liccardo, a quem peço a licença e parabenizo pelo belíssimo trabalho.
Espero que a partir desta “viagem” o leitor se sinta motivado a visitar a Canastra, um dos lugares mais encantadores de Minas Gerais.
E para começar a programar a viagem acessem o Portal da Serra.

Parco dell’ Uomo

 Ao pensar sobre os conflitos gerados com a criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral no Brasil, percebo um paradoxo: Além do objetivo preservacionista, os Parques são criados para garantir que as gerações futuras conheçam nossas belezas naturais, mas para que isso aconteça temos que excluir as pessoas dos domínios dos parques. É intrigante, constrangedor e insustentável, pois fortalece a ideia de que a Natureza só está protegida se o Homem for mantido à distância.

Para instigar uma reflexão dialética penso num dos mais belos Parques que já tive a oportunidade de conhecer (esse aí de cima).Trata-se do Parco Nazionale Delle Cinque Terre região da Ligúria na Itália, uma área relativamente pequena (pouco mais de 4 mil hectares) que engloba cinco pequenas cidades maravilhosas; Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare, que juntas tem uma população de aproximadamente 5 mil habitantes. Ocorre que o Cinque Terre foi criado e tornou-se uma referência internacional reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade, exatamente pela presença humana, que ao longo de mais de 1.000 anos de ocupação das íngremes encostas que emolduram essa parte do Mediterrâneo, criaram uma paisagem modificada pelo trabalho de construção de terraços em patamares sucessivos, para a produção agrícola.
Por isso é conhecido como Parco Dell’Uomo (Parque do Homem) e tornou-se o vetor de desenvolvimento da região, atraindo turistas, promovendo a agricultura orgânica e valorizando a cultura material e imaterial.



Ao comparar com o descaso com que são tratados a maioria dos nossos parques, anseio que em tempo não tão longínquo possamos compreender os parques como locais de uma inestimável herança cultural que enriquece a vida das pessoas, ao proporcionar um profundo e inspirador senso de conexão das comunidades com a paisagem.

Tem gente no Parque, deve haver gente no Parque

Resolvi criar este post para divulgar o vídeo “Tem Gente no Parque” produzido pelo meu grande amigo Cris (Cristiano Barbosa nos documentos) em parceria com a Nara Sbreabow, que trata com muita sensibilidade poética do conflito latente entre o Parque Nacional da Serra da Canastra e a população vivente no entorno da Unidade de Conservação.
A origem do conflito está numa prática perversa dos órgãos governamentais brasileiros, que ao longo de muitas décadas vem criando “parques de papel”, ou seja unidades de conservação criadas por decreto que dificilmente são implementadas, por falta de recursos orçamentários para a justa indenização dos proprietários.
O Parque da Serra da Canastra é um caso simbólico. Criado em abril de 1972 com a finalidade principal de proteger a nascente do rio São Francisco, o decreto assinado pelo general Médici estabelecia um Parque de Papel com 200 mil hectares, no entanto, devido ao custo das indenizações a área original foi reduzida para os atuais 71.500 hectares. Além da nascente do Velho Chico, devemos lembrar que a nascente do rio Araguari também está nos domínios do Parque.
Ocorre que em 2005, o IBAMA aprovou um novo Plano de Manejo para o Parque, que estabelece a ampliação da Unidade de Conservação para os tais 200 mil hectares que nunca saíram do papel, mas a população que vive na região afetada foi negligenciada durante todo o tempo.
Assistam o vídeo e comecem a pensar em visitar a Canastra, um das paisagens mais encantadoras do Cerrado Brasileiro. Vou preparar outro post sobre o tema.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Alfabetização Ecológica e Encontros Afortunados

Fernanda (daqui de casa) me disse que Maria Neusa (de Divinópolis) contou que Roseana Murray (de Saquarema) divulgou no seu blog, que em sua casa aconteceu um encontro afortunado entre a Diretora de uma Escola Rural (de Joinville) e um jornalista do El País (da Argentina).
Afortunado porque deu projeção a um trabalho belíssimo de Alfabetização Ecológica desenvolvido na Escola Municipal Hermann Muller.
Não deixe de ler a matéria


Brasil ensaya la alfabetización con flores y poesía

Una experiencia piloto se convierte en modelo de educación ecológica



Silvane Aparecida da Silva, directora de la escuela, con un grupo de alumnos.
Parabéns à Silvane e toda a comunidade que legitima e valoriza esta iniciativa.

Agradecimentos

O motivo deste post é agradecer a todas e todos que estão passando por aqui, e esclarecer que estou apenas iniciando minhas incursões por este mundo do blog, incentivado pela minha amada Fernanda. Como todo iniciante conheço pouco sobre os recursos e padrões de etiqueta, por isso, antecipadamente me desculpo por eventuais exageros, falta de respostas aos que comentam ou omissões de crédito. A despeito de tudo isto, estou gostando de compartilhar alguns assuntos e temas que podem interessar a outras pessoas e confesso minha feliz surpresa pelos comentários já feitos. Conto também com sugestões, críticas e colaborações para podermos ir aperfeiçoando nossos compartilhamentos.
E para que não fiquem constrangidos em se manifestar, faço minhas (que pretensioso!) as palavras do Manoel de Barros:

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.


Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Fiat Lix

Segundo o relato bíblico, durante a Criação do Mundo Deus proclamou em latim “Fiat Lux” (Faça-se a Luz) (Gênesis 1-3), mas para desencanto do paraíso perdido, pouco tempo depois a sua criatura dileta passou a agir de modo a consagrar outra expressão “Fiat Lix”: Faça-se o Lixo.
Assim as imundícies, os imprestáveis, os sem utilidades passaram a nos acompanhar cotidianamente. A princípio a quantidade era pouca, tudo de origem orgânica, facilmente digerido pelas galinhas e porquinhos do quintal, mas com as modernidades desenvolvimentistas e tecnológicas, a coisa começou a se complicar. Principalmente nas cidades.
Conta-se que em Roma, bem antes do nascimento de Cristo, já era possível encontrar placas com dizeres mais ou menos assim: “Não Jogue Lixo Aqui”.
Por volta do ano 1400 os ingleses já tinham regras para a coleta de lixo e há registros de que em 1551 até o pai de Shakespeare chegou a ser multado por jogar lixo na rua, isso antes de ele ser nomeado prefeito em Stratford em 1568.
Outras curiosidades associadas ao gerenciamento, do que hoje chamamos de resíduos sólidos urbanos, você pode consultar no site da COMLURB, Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro.
Mas o principal destaque deste post foi atender à dica da Mira, minha querida irmã, para divulgar documentário Lixo Extraordinário, produção britânica/brasileira que concorre ao Oscar deste ano, mas apenas como produção britânica.

Para finalizar, como ontem vi novamente um “bacana” jogando uma latinha pela janela de seu carrão, voltarei ao tema.