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sábado, 9 de julho de 2011

Cadárvore

Cadárvore na entrada de Uberlândia, às margens da BR 365
A primeira vez que ouvi a palavra "Cadárvore" foi do amigo Thomaz Harrell, um dos maiores fotógrafos que conheço e humilde mestre didático e tolerante.
Pois, esta semana saindo de casa pela manhã me deparei com a cena retratada. Uma figueira já decepada há alguns meses, calcinada como uma herege, feiticeira, pecadora. Não sei qual foi seu pecado, se teve tribunal inquisitorial ou se foi justiçada por alguém ligado ao tráfico. Só testemunhei a sentença.
Ouvi pelo rádio, num programa matinal, que já tinha passagens policiais, já esteve envolvida em alguns "TCOs" (Termos Circunstanciados de Ocorrência). 
Triste sina a das árvores pobres, árvores de rua, homeless que mesmo sendo poucas, acabam sendo vítimas da violência. O ministério público, que aqui faz política, que quase acabou por decreto com os pobres pedintes do cruzamento das avenidas Rondon e João Naves, bem que poderia intervir, já que agora vão acabar com o cruzamento, trocá-lo por um viaduto de classe internacional. Fico imaginando um projeto do "mp", que por "recomendação" vire lei: "Todo cidadão ilustre, proprietário de imóveis, dono de carro bacana que proteger uma  árvore com cerca elétrica, consertina ou segurança privada tipo "spaceguardian", terá direito à homenagem na câmara de vereadores em sessão solene e transmitida pela tv universitária. Afinal, os cidadãos de bens merecem... as árvores precisam e os vereadores estão aí.
Temos que mobilizar as forças vivas, afinal cada vez mais as árvores de nossa cidade estão se envolvendo com o mundo do crime. Talvez seja o descaso da sociedade com as mudas. Não lhe dão às palavras.
Ainda bem que temos Manoel de Barros:

"Um passarinho pediu a meu irmão para ser árvore.
meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol,
de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore, aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casa vazia de cigarra,esquecida no tronco das árvores só serve para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores
são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão
se transformara,envaidecia-se quando era nomeada para o
entardecer dos pássaros e tinha ciúmes da brancura que os
lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com as borboletas".

4 comentários:

  1. E mais e mais viadutos... e mais e mais naturezas mortas...

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  2. Falta de afeto, falta do CUIDAR. E assim, da noite pro dia... é arvore cortada, teatro derrubado e como diz a Clara: Mais e mais viadutos. E dá-lhe plantio!!!

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  3. "Eu também quero me indignar..."

    Delma

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  4. Manoel de Barros,diz tudo,sempre...beijos admiradores.

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